Carta sobre a Correção de uma Redação
- filiphe
- 14 de fev. de 2014
- 8 min de leitura
Indaiatuba, 21 de fevereiro de 2014
Caro Estudante do Mundo Enem Pré-Vestibular:
Em primeiro lugar, seja bem-vindo ao Mundo Enem Pré-Vestibular e espero, neste ano letivo, possibilitar-lhe um preparo sólido e eficiente para que você esteja preparado para a prova de Redação do Enem e também dos vestibulares.
O que é estar preparado para uma prova de Redação?
Foi-se o tempo em que um estudante era solicitado para que redigisse um texto dissertativo ou narrativo a partir de temas como: “Minhas Férias”, “Meu lar” ou ainda temas que se estruturavam em uma única frase como “Pena de Morte”, “Ser cidadão”, etc., sem conter nenhuma coletânea de textos motivadores para estruturar a proposta de Redação. Nas propostas atuais de vestibulares e também a do Enem não se espera mais que o candidato tenha uma superficial opinião sobre um tema e escreva “loucamente” o que lhe vier em sua cabeça. Se você está habituado a redigir suas redações dessa forma, chegou a hora de repensar e entender que o que se espera de um estudante em um exame de Redação não é meramente a sua opinião sobre alguma coisa, mas a sua capacidade de estruturar sua opinião a partir de um diálogo com os fatos da realidade, com sua cultura geral e com outras opiniões expressas nos textos motivadores (a famosa “coletânea”) que acompanham a proposta de Redação.
Não basta apenas saber juntar as letrinhas e formar as palavras e em seguida juntar as palavras e formar frases. Claro, isso também é importante! Mas se você chegou até essa etapa do Ensino Médio e tem ambições de ser aprovado num curso superior, está pressuposto que juntar letrinhas e juntar palavras você já aprendeu a fazer. Então, agora é necessário saber transformar boas ideias e sólidas opiniões em coerentes textos. Além de opiniões coerentes, você deve também saber estruturar seu texto a partir daquilo que os gramáticos chamam de “norma culta da Língua Portuguesa”. Essa tal de “norma culta” impõe uma série de regras a seguir, muitas, inclusive, bastante questionáveis, mas não cabe a você, mero vestibulando, que deseja uma vaga em alguma Universidade, questionar tais regras. Cabe a você executá-las com maestria e obter uma excelente nota nesse quesito da correção.
Vamos discorrer com mais detalhes sobre o que se espera de um vestibulando numa correção:
1 – Adequação ao Tema
O texto elaborado por você deve estar plenamente adequado ao que foi solicitado como tema. Os níveis de adequação variam numa grade pré-determinada pela banca dos corretores. E dessa forma pontua-se esse quesito. Pode haver nenhuma fuga ao tema proposto, uma fuga parcial ou fuga completa ao tema. Vamos imaginar que lhe foi solicitado uma dissertação-argumentativa sobre “movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI” e você decida transcrever o “hino do Palmeiras”. Espera-se que a banca considere isso uma fuga completa ao tema proposto, ainda que possa haver instantes raros no texto em que se fale sobre o tema “imigrações”. Certamente isso é o que se espera de um processo justo e coerente de correção de redações. Ainda que tal justiça nem sempre ocorra. Mas pode haver também a fuga parcial. Isso ocorre quando a redação escrita versou sobre o tema solicitado, no entanto, fugiu do tema em alguns momentos do texto (não para fazer brincadeirinhas ou “zoações” na prova), mas por excesso de informações aludidas pelo candidato. Não se perder na discussão do tema é fundamental nesse quesito da correção.
2 – Adequação à Coletânea
Fazer bom uso da coletânea de texto (caso haja uma, mas geralmente vai haver) é o que se espera neste quesito. Mas o que é fazer bom uso da coletânea? Primeiramente, evite fazer cópia da coletânea e transcrevê-la na prova. É aceitável que o candidato cite a coletânea em um ou outro momento, mas veja bem, citar é diferente de copiar. A prova de Redação não é uma prova de cópia de texto. Citar significa usar expressões como: “como disse o autor X...” ou “de acordo com autor A ... , etc. Mas isso em certos momentos. Não fique citando o tempo todo. Se possível nem cite. Use apenas a ideia e dialogue com ela. É a sua opinião que está em jogo, ou seja, seu processo de autoria de texto está sendo avaliado. A coletânea está na prova para você criar um diálogo com os autores dos textos ali presentes. Ela deve inspirar as suas opiniões. Você estará livre para concordar ou discordar daquilo que está na coletânea. O bom uso da coletânea, portanto, é aquele que conduz o candidato a criar seu texto dialogando com outros, mas sem jamais perder suas marcas de autoria. Também é muito importante que você traga para a discussão outros aspectos do tema que possam não estar na coletânea, mas que você, em seu processo de leitura e aprendizado, adquiriu tal informação. Ou seja, estar bem informado e “antenado” com a realidade é fundamental para se fazer uma boa redação. Então, ler jornais, revistas, obras literárias, obras históricas, ver bons filmes, ouvir boa música, assistir a bons espetáculos teatrais irá ajudar a compor uma bagagem cultural que será muito útil e fundamental na prova de redação.
3 – Adequação ao tipo de texto
Existe uma variedade muito grande de tipos textuais. Existem os textos de tipo argumentativo, narrativo, informativo, etc. Geralmente, o que se solicita nos vestibulares em geral e no Enem é o texto dissertativo-argumentativo. No entanto, nem sempre será assim. Caso você aspire conseguir uma vaga na UNICAMP, saiba desde já que sua prova de Redação se estrutura a partir de confluência de gêneros textuais. São solicitadas mais de uma proposta textual a partir de gêneros diferentes. Então, o vestibular UNICAMP começa a mudar uma realidade do ensino de Redação ao longo dos anos do Ensino Médio. A realidade de ensinar basicamente (para não dizer quase que exclusivamente) o estudante a elaborar dissertações. Mas não se preocupe, caro estudante. Se seu interesse estiver na UNICAMP, dedicarei, neste curso, uma parte para discutir e ensinar a desenvolver uma diversidade de gêneros textuais para a prova desse vestibular. Faremos também isso nesse ano letivo.
Mas o que é uma adequação a um texto dissertativo-argumentativo?
Primeiramente, deve-se ter claro que dissertar é discutir um tema fazendo uso claro e preciso de argumentos lógicos e coerentes. E de onde saem argumento lógicos e coerentes? Nascerão em sua iluminada cabeça na hora da prova? A resposta é NÃO! Se você não realizou aquela tarefa que mencionei no quesito anterior que é a de realizar leituras e aquisições de conhecimento e cultura por diversos meios e fontes, você não estará apto a gestar argumentos sólidos e interessantes (até mesmo originais) para usá-los na elaboração de sua dissertação. Argumentos fracos do senso comum é o que mais se ouve por aí e o que mais se lê em provas de Redações, então, não ache que você vai obter grandes pontuações com tal nível de argumentação. Alguém que mantém-se num nível de alienação diante do mundo em que vive não é alguém apto a produzir uma boa redação. Além de que, você é um estudante e nada nesse mundo é mais triste de se ver do que um estudante alienado da realidade.
A velha fórmula dissertativa está ainda em voga: necessário uma INTRODUÇÃO, uma TESE (a ideia que será desenvolvida) um DESENVOLVIMENTO estruturado numa linha argumentativa e, finalmente, uma CONCLUSÃO para finalizar seu texto analítico. Fácil assim, ou, se você preferir, difícil assim. Sugiro que você olhe as coisas com otimismo, já que o pessimismo não é uma boa escolha para um vestibulando. Aquela velha fórmula de um parágrafo para introdução, um parágrafo para desenvolvimento e um parágrafo para conclusão é deplorável. Se você aprendeu assim, esqueça isso. A quantidade de parágrafos em seu texto é a quantidade necessária para você realizar uma boa redação e isso é totalmente variável. Lembre-se também que uma redação não deve ser muito longa e nem muito curta. É sempre útil ver no caderno de respostas quantas linhas você terá disponível para passar a limpo sua redação e, assim, terá noção da medida da mesma. Redações curtas demais já são um grande passo para o fracasso nessa prova. Não é possível analisar um tema e argumentar sobre ele em poucas linhas. Ainda que o Enem coloque poucas linhas como o mínimo necessário, não se atenha ao mínimo, aliás, busque sempre pelo máximo, começando pelos seus esforços como estudante.
4 – Coerência Textual
A coerência textual se aplica ao conteúdo do texto. Quando você analisa e argumenta sobre determinado assunto é necessário que faça isso com coerência. Que seus argumentos sigam uma linha lógica e clara de raciocínio. Não se perder nesse raciocínio é muito importante. E não se contradizer também é. Um erro costumeiro do ensino de Redação é ensinar ao estudante que em uma dissertação ele deve mostrar os argumentos favoráveis e desfavoráveis àquele tema. Mas como você vai defender uma tese e convencer alguém a aceitar suas ideias quando você já expõe os argumentos contrários ao que está defendendo? Isso é incoerente. Então, seja coerente ao definir sua tese e montar sua linha argumentativa. Use argumentos que comprovem sua tese e se mostrar os argumentos contrários, então, que seja para confrontá-los com contra-argumentos que os desarmem e os aniquilem. Uma boa dissertação com alto nível de coerência é aquela em que a ideia é defendida com maestria e seus argumentos são incontestáveis e, mesmo que se possa contestá-los, já que nem todos pensam sempre da mesma forma, que ao menos sejam dignos de admiração e respeito por sua lógica e precisão analítica.
5 – Coesão Textual
A coesão textual se refere ao formato do texto. Só ter ideias e saber argumentar não basta para realizar uma boa redação. É necessário saber estruturar isso no papel. Saber estruturar um texto requer conhecimentos das tais de “normas cultas da Língua Portuguesa”. O que é um texto coeso? É aquele que permite a fluidez da leitura. Um texto que você tem dificuldade para entender o que se está sendo dito e que tenha a leitura prejudicada por ausência ou mau uso dos conectivos gramaticais e má estruturação frasal é um texto com problemas de coesão. Ou seja, é necessário saber usar as vírgulas, os dois-pontos, o ponto final, abrir e fechar parágrafos, usar as preposições e as conjunções, etc. Isso tudo é fundamental para se obter o efeito da clareza textual. Assim, se você não se sente fluente nesse item, sugiro pegar seu bom e velho livro de gramática ou produção de texto e começar a se preocupar com esses detalhes. Pequenos detalhes, mas que negligenciados podem produzir, em contrapartida, pequenas notas nas provas de Redação. Boas ideias e argumentos coerentes e originais de nada valerão se você não souber aplicar isso no modelo escrito que possa criar um fluido entendimento para seu leitor e, no caso do Enem e de um vestibular, o leitor será um corretor, o que faz tudo ficar ainda pior.
6 – Modalidade Escrita da Língua Portuguesa
Neste último quesito se avalia a parte gramatical e ortográfica da Redação. Ou seja, se você escreve corretamente as palavras e faz as construções corretas dentro de orações e períodos. Cometer um ou outro “errinho” ortográfico nem vai atirar sua nota de redação ladeira a baixo. Mas ficar cometendo erros e graves imprecisões gramaticais numa redação é começar a desqualificá-la frente às normas da Língua Portuguesa. Aprender a escrever corretamente o padrão culto da linguagem é necessário, não apenas para a prova de Redação, mas em todas as provas discursivas que venha a realizar e também na elaboração de textos escritos ao longo da vida. Poderíamos aqui discutir os aspectos do preconceito linguístico que se gera a partir de algo tão externo e artificial como são as normas cultas de um idioma, mas essa discussão não vai lhe interessar como vestibulando e somente como cidadão. E o que você busca nesse momento é conseguir um bom desempenho nas provas de Redação que irá realizar. Lembre-se também que as concordâncias e regências são muito importantes. Procure ser detalhista em relação a isso. No mais, se fizer tudo como sugeri, estou certo que fará uma excelente prova de Redação.
Será um enorme prazer tê-lo, em 2014, como estudante neste curso.
Atenciosamente,
Joel Della Pasqua
Professor de Redação
Mundo Enem Pré-Vestibular
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